O universo, o quebra-cabeça e a engenharia aeroespacial

abril 28, 2016
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Trabalhando com estudantes em São Paulo para divulgar o estudo das ciênciasTrabalhando com estudantes em São Paulo para divulgar o estudo das ciênciasAnn Arbor – A apenas alguns dias de conquistar o diploma de Engenharia Aeroespacial, com especialização secundária em Física, pela Universidade de Michigan, o paulista Cauê Borlina, não podia estar mais feliz e com a sensação de dever cumprido; e muito bem cumprido. Este mês, ele conclui o ensino superior em Ann Arbor, com nada menos que quatro artigos publicados em jornais acadêmicos da sua área e sete premiações e honras estudantis.

O prêmio mais recente, o “Distinguished Leadership” da Escola de Engenharia, foi recebido em março e homenageia estudantes que demonstram liderança e excelente serviço à universidade e comunidade.

“Essas premiações nos impulsionam. Me lembro até hoje da primeira que recebi, ainda no primeiro ano de faculdade. Eu era o mais novo do grupo e fui reconhecido como líder estudantil do laboratório de fabricação de sistemas espaciais (ou Student’s Space System Fabrication Laboratory, S3FL). Foi uma motivação e tanto,” lembra.

Com apenas de 22 anos, o brasileiro pesquisou tópicos complicados como sensores de detecção e acúmulo de gelo em aeronaves, aplicações eletrodinâmicas da poeira e dos redemoinhos de ventos (conhecidos como dust devil) comparando descobertas na Terra e extrapolando para Marte. Usando dados colhidos do Planeta Vermelho pela Missão Curiosity, da NASA, Cauê também estudou as prováveis geadas, as evoluções térmicas e físicas de rochas sedimentares da cratera Gale em Marte.

Na NASA, para realizar testes na Terra, enquanto Curiosity está operando em Marte.Na NASA, para realizar testes na Terra, enquanto Curiosity está operando em Marte.“O universo é fascinante. A cada descoberta através da minha pesquisa, mais eu me interessava não somente pelo nosso planeta mas pelo sistema solar e mais eu queria e quero saber,” disse o formando. Entre seus principais interesses, a formação planetária, os processos de superfície e a evolução do clima e seu impacto em diferentes planetas do sistema solar.

Fã de aviões desde pequeno, ele conta que queria aprender a projetar aeronaves quando chegou na U-M, em 2012, e confessa que não tinha a menor ideia das oportunidades que teria, nem da confiança que seria depositada nele. “Aqui podemos nos envolver em todos os projetos que temos interesse e sempre nos dão liberdade e incentivo financeiro, além de estimularem nossa criatividade. Aqui, aprendemos a ser um líder,” diz.

Como não faltou interesse, nem dedicação, durante esses quatro anos na escola de engenharia, o brasileiro também fez parte do time científico da missão da NASA MSL – Mars Science Laboratory. Foi estagiário do departamento de Ciência Planetária da NASA (2015) estudando a estrutura física da lua de Júpiter, Europa, um dos lugares que os cientistas acreditam que possa existir vida no sistema solar, e participou de pesquisas sobre a formação e mutação de poeira no lago Owens, uma praia seca na Califórnia.

Em uma das pesquisas mais marcantes, passou o verão de 2014 no Departamento de Ciências Geológicas e Planetárias do California Institute of Technology, trabalhando em um dos tópicos mais discutidos quando o assunto é Marte: como que a cratera onde a Curiosity pousou se formou a bilhões de anos atrás? A pergunta é um mistério no campo.

Outro projeto de destaque, que vai deixar saudade é o Aerospace Day, criado por ele e um grupo de estudantes, para aproximar as crianças da ciência de uma maneira divertida e informativa, com corridas de pequenas aeronaves com controle remoto, construção de alguns modelos e muitas outras atividades. “É um dia intenso de experiências interativas aeroespaciais, onde podemos mostrar aos adolescentes e pais como a ciência é apaixonante, super relevante, e pode ser divertida também,” disse.

Com o diploma nas mãos, Cauê já tem destino certo. Ele foi aceito nas seis universidades americanas que aplicou e decidiu pelo programa de PhD em Ciências Planetárias do MIT. Ele quer ser professor e tentar entender a formação dos planetas. “Nosso universo é um enorme quebra cabeça e eu quero descobrir o lugar de cada peça,” brinca.