Expansão da Língua Portuguesa através da Sétima Arte

outubro 16, 2015
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Festival LusófonoOs sotaques podem até ser bem diferentes, mas todos os atores só falam português ou crioulos do português e estrelam onze filmes que discutem questões sociais, culturais e históricas. O Festival de Mostra de Cinema Lusófono, que acontece até dezembro em Ann Arbor, é exclusivo e o único nos Estados Unidos que apresenta a língua portuguesa falada em 6 países diferentes: Brasil, Portugal, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e Angola.

Todos são filmes recentes, aclamados pela crítica, mas com pouca ou nenhuma presença no circuito comercial de cinema. Além do idioma, todos eles contam histórias representativas dos seus países, como problemas raciais, de imigração, política e gênero, utilizando uma narrativa inovadora, com diversas abordagens estéticas.

A atriz guineense, Bia Gomes, na homenagem ao cineasta Flora Gomes (2014), em BissauA atriz guineense, Bia Gomes, na homenagem ao cineasta Flora Gomes (2014), em Bissau“Queremos aumentar a presença da língua portuguesa e da cultura aqui em Ann Arbor e no sudeste de Michigan”, disse o Professor do Departamento de Estudos Afro-americanos e Africanos e de Línguas e Literaturas Românicas, Fernando Arenas, organizador do festival. “E também desejamos chamar a atenção para a vitalidade da língua e das suas culturas.”

Essa é a segunda versão da mostra. A primeira foi há 2 anos, em 2013, e apresentou sete películas. Segundo Arenas, a audiência foi “excelente”, com 70-80% das salas lotadas tanto no Michigan Theatre, quanto no UMMA Helmut Stern Auditorium. Este ano a afluência de público tem sido ainda maior.

Entre os filmes deste ano estão, “Que horas ela volta?”, com Regina Casé, que conta a história de uma empregada doméstica, que trata o filho da patroa como se fosse seu, mas precisa reaprender a conviver com a filha que deixou para trás quando se mudou de Pernambuco. O longa é a aposta brasileira para disputar uma das cinco vagas na lista de melhor filme estrangeiro no Oscar de 2016.

O Filme brasileiro Elena, de Petra CostaO Filme brasileiro Elena, de Petra CostaTambém brasileiro, o filme Elena, baseado em fatos reais. A atriz Petra Costa decidiu se arriscar ao rodar um documentário sobre a irmã, Elena, que viajou para Nova York para seguir o sonho de se tornar atriz de cinema e deixa no Brasil uma infância vivida na clandestinidade, devido à ditadura militar implantada no país, e também a irmã mais nova, Petra, de apenas sete anos.

Um dos filmes de Portugal é “E agora, lembra-me”. Portador do HIV há 20 anos, o cineasta Joaquim Pinto testa drogas clandestinas durante um ano e relata sua experiência cinematograficamente. (Veja a lista completa do festival abaixo).

“Fui muito criterioso e cuidadoso na escolha dos filmes, ” disse Arenas. “Queríamos realmente apresentar uma visão multidimensional da riqueza das culturas dos países que falam português ou crioulos de base lexical portuguesa (da Guiné-Bissau e Cabo Verde) no mundo. Então todos esses diretores compartilham um compromisso com a representação cinematográfica e questões sociais, raciais e políticas.”

Ligação com o Português
O filme Bobo, dirigido por Inês Oliveira (Portugal/Guinea-Bissau)O filme Bobo, dirigido por Inês Oliveira (Portugal/Guinea-Bissau)Nascido em Nova Iorque, o professor Fernando Arenas se mudou para a Colômbia aos 8 anos, com os pais, onde, claro, passou a conviver com o espanhol. “Sempre gostei muito de línguas e comecei a me interessar também pelo português ouvindo rádio em onda curta. Passei a estudar e acabei aprendendo sozinho,” disse.

Mais tarde, por causa da vida profissional, Arenas, que também trabalhou durante 16 anos na Universidade de Minnesota e desenvolveu lá um programa completo de português, tem viajado muitas vezes ao Brasil, a Portugal e aos países africanos de língua oficial portuguesa. Atualmente tem várias parcerias de trabalho no Brasil, entre elas, com o Centro de Estudos das Literaturas e Culturas de Língua Portuguesa, da USP.

Hoje, além de coordenar o Departamento de Língua Portuguesa da U-M, que tem 40 estudantes, ele pesquisa os fluxos migratórios no mundo lusófono, com destaque para Lisboa, onde tem vindo a surgir em décadas recentes uma dinâmica cultura afro-portuguesa.

“Acho que o português, como língua e amálgama de culturas dos vários Brasis, das várias Áfricas e de um Portugal mais multicultural, está ganhando mais importância. É claro que essa dinâmica acontece devido ao enorme peso econômico e geopolítico do Brasil,” diz Arenas.

Arenas acredita que as universidades norteamericanas reconhecem esse fato, portanto, o português como língua de ensino está crescendo. Atualmente, existe apenas um “minor” em português na U-M, mas o idioma já é opção como “major” em Romance Languages & Literatures. “Estamos atualmente unindo esforços a fim de expandirmos as opções programáticas do português a nível da graduação e pós-graduação. A luta continua!”, disse.

 

Mais informações:
Português na U-M

Festival Lusófono

Fernando Arenas