Direto ao ponto – ou melhor, ao cérebro – no combate à dor

agosto 13, 2015
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A imagem à esquerda mostra, em 3D, a posição dos eletrodos durante o estudo. Na imagem à direita, o cérebro maior demostra, em vermelho, a intensidade da corrente elétrica induzida com precisão na região cortical para alívio das dores de DTM.A imagem à esquerda mostra, em 3D, a posição dos eletrodos durante o estudo. Na imagem à direita, o cérebro maior demostra, em vermelho, a intensidade da corrente elétrica induzida com precisão na região cortical para alívio das dores de DTM.ANN ARBOR—Dificuldade ao abrir a boca, dores no rosto ou ao redor da orelha durante a mastigação. Sintomas que atrapalham a vida de muitas pessoas que sofrem de Disfunção temporomandibulares (DTM). Novo estudo da Universidade de Michigan descobre que ao usar o cérebro como alvo, o tratamento dessas dores crônicas pode ser mais preciso e eficiente.

Entre os pesquisadores, está o brasileiro e especialista em dor, Dr. Alexandre DaSilva, que dirige o Laboratório “Força Tarefa em Cefaleia e Dor Orofacial”, da U-M. “Vimos que temos condições de aliviar a dor crônica nos pacientes de forma altamente acurada. Estamos no caminho certo,” comemora.

Para esta pesquisa, tese de mestrado do estudante Adam Donnell, eles desenvolveram uma nova montagem de neuroestimulação de alta-definição, em colaboração com City College of New York, específica para cefaleias e dores faciais. Vinte e quatro mulheres, com dores de DTM crônicas, participaram do estudo e foram divididas em dois grupos. Durante 5 dias, as pacientes do grupo ativo receberam sessões diárias de estimulação elétrica sem cirurgia de 2 milamperes (2mA), de 20 minutos cada, focalizadas em uma área especifica do cérebro, onde a ativação e modulação das funções sensor motoras da face acontecem. As outras pacientes, do grupo placebo, receberam estimulações por breves segundos, que não tem efeito clínico.

Após os cinco dias de tratamento, os pesquisadores avaliaram as participantes, utilizando também um novo aplicativo eletrônico, PainTrek, desenvolvidos no próprio laboratório da U-M, e constataram uma drástica diminuição da dor facial, comprovando maiores efeitos analgésicos comparados com placebo, possibilitando a abertura maior da boca sem dor, e alívio acima de 50% nas dores faciais mesmo depois de quatro semanas.

“O mais interessante é que como estimulamos um lado do cérebro, durante a semana de terapia, tanto a área quanto a intensidade da dor só foram alteradas significamente do lado facial contrário a estimulação,” explica. “Isto faz todo sentido, já que nossa função senso motora é controlada basicamente por lados opostos no cérebro.”

A figura mostra em verde todas as areas onde houve melhora da dor de DTM em cada paciente durante a semana de tratamento com estimulação do lado oposto do cérebro. A figura mostra em verde todas as areas onde houve melhora da dor de DTM em cada paciente durante a semana de tratamento com estimulação do lado oposto do cérebro. A DTM é um grupo de alterações no sistema mastigatório caracterizados pela presença de dor na articulação temporomandibular (ATM) e/ou nos músculos mastigatórios, som articular, desvios ou restrições dos movimentos mandibulares. Assim como outras dores musculoesqueléticas, se não forem adequadamente diagnosticadas e tratadas com sucesso, a DTM aguda pode se tornar crônica e causar maior comprometimento na qualidade de vida dos pacientes, o que pode gerar implicações econômicas, tanto para o indivíduo, quanto para o sistema de saúde e para a sociedade.

“O estudo mostra que é possível ser altamente preciso no tratamento das dores crônicas quando se usa áreas específicas do cérebro como alvo e isso pode facilitar demais o combate às dores, já que cada paciente sofre de uma forma diferente. No futuro poderemos ter um tratamento personalizado, dependendo das características das dores e outros sintomas clínicos presentes em cada paciente,” diz DaSilva.

DaSilva acrescenta que a intenção deles era apenas modular a área e intensidade das dores como também a disfunção motora de DTM. “Nenhuma alteração de aspecto emocional ligada a dor foi mostrada entre os grupos, já que não estimulamos áreas frontais do cérebro responsáveis por tais funções. Porém, se fossemos estudar pacientes com DTM e sintomas depressivos nós focalizaríamos nestas regiões corticais.”

O brasileiro diz que próximo passo é fazer uma análise desses estímulos cerebrais por um período mais longo de tempo e também estudar todas as suas consequências no cérebro. O seu laboratório já demonstrou num outro estudo que parte da eficácia terapêutica da neuroestimulação é devida a ativação de endorfinas no cérebro. DaSilva acrescenta que já estão sendo feitos alguns testes clínicos na U-M durante a dor relacionada a radioterapia em pacientes com câncer.

Os resultados deste estudo acabam de ser publicados online no Brain Stimulation Journal.

• Alexandre DaSilva: http://bit.ly/1kFxzRu
• U-M School of Dentistry: www.dent.umich.edu