Água líquida em Marte: Curiosity confirma condições favoráveis

abril 14, 2015
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Mars Science Laboratory em Marte. Crédito da imagem: NASAMars Science Laboratory em Marte. Crédito da imagem: NASAANN ARBOR—Está comprovado e são dados oficiais enviados pelo robô americano Curiosity, que está em Marte: existem condições favoráveis para a formação de salmoura líquida no planeta vermelho durante o nascer do sol. E outro detalhe surpreendente para os pesquisadores; essas amostras foram encontradas na região tropical do planeta, área muito seca.

Os resultados do estudo estão divulgados na edição de 13 de abril, da Revista Nature Geosciences. Entre os pesquisadores, está o cientista brasileiro Nilton Rennó, professor de Ciências Planetárias e Engenharia Espacial da Universidade de Michigan. “Nós tínhamos feito simulações em laboratório que imitavam as condições de Marte e os resultados mostraram como pequenas quantidades de água líquida podem existir na superfície da região polar de Marte. Agora temos uma comprovação de que água líquida pode existir inclusive na região tropical. É uma importante descoberta,” explica.

A vida como conhecemos precisa de água para sobreviver. Enquanto o novo estudo interpreta os resultados do Curiosity dizendo que os microrganismos da terra não seriam capazes de sobreviver e se replicar no subsolo de Marte, Rennó vê os resultados como inconclusivos. Ele aponta os biofilmes – colônias de organismos minúsculos que podem fazer seu próprio microambiente.

O robô Curiosity, da Missão Mars Science Laboratory (MSL) detectou perclorato na cratera de Gale, provavelmente na forma de perclorato de cálcio. A presença destes sais é relevante por causa da sua capacidade de baixar a temperatura de congelamento da água e formar produtos hidratados estáveis. Além disso, formam soluções líquidas por absorção de vapor de água atmosférico através do processo de deliquescência.

Rennó foi um dos primeiros cientistas a levantar a hipótese de que água líquida, na forma de salmoura, poderia existir atualmente em Marte. Em 2008, o cientista brasileiro notou estranhos glóbulos nas fotos enviadas pela aeronave da Missão Espacial Phoenix. Enquanto ele acreditava que eram gotículas de água, muitos de seus colegas discordaram. Até então, nunca se havia encontrado sais em Marte.

Estes últimos resultados demostram que as condições ambientais em Gale se mostraram favoráveis para a formação de salmouras líquidas transitórias noturnas nos 5 cm mais elevados da subsuperfície, que secam depois do nascer do sol. “É um ciclo, as salmouras derretem, congelam, descongelam e derretem de novo,” explica o Rennó.

Além disso, os dados mostram que existe um processo ativo de troca de água solo-atmosfera, compatível com as mudanças no estado de hidratação de sais no subsolo, até 15 cm abaixo da superfície.

O estudo também explica que, como os percloratos estão presentes em toda a superfície de Marte, esses resultados enviados pelo Curiosity têm implicações mais amplas para a estratégia de exploração do planeta, verificação da disponibilidade e história da água e para as políticas de proteção planetária.

“Essas descobertas nos mostram que estamos no caminho certo para entender o processo de formação da água líquida, não só em Marte, mas também nos outros planetas do “Mundo Gelado”, como algumas das luas de Júpiter e Saturno, enfatiza Rennó. “Temos novos experimentos em estágios avançados aqui na Universidade de Michigan e espero podem dividir esses resultados em breve, acrescenta.”

O título do estudo é “Transient liquid water and water activity at Gale crater on Mars.” Parte da pesquisa foi realizada no Laboratório Jet Propulsion, no Instituto de Tecnologia da Califórnia, sob um contrato com a NASA.

 

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